Grande Hotel Termas de Araxá é reinaugurado

Nas décadas de 1940 a 1960, era sinônimo de glamour. Hospedar-se no Grande Hotel Termas de Araxá (a 276 kms de Passos) significava, naqueles tempos áureos, desfrutar do que havia de mais luxuoso em terras mineiras. O hotel era frequentado por turistas de todos os cantos do país e até do exterior, atraídos pelo conjunto arquitetônico elegante, natureza exuberante, gastronomia de primeira e, claro, as famosas termas de águas sulfurosas e radioativa, com propriedades medicinais. Um lugar com muita história para contar. Foi lá, por exemplo, que a seleção brasileira se concentrou, em 1958, antes de ir para a Copa do Mundo da Suécia. O clima e as águas foram boas, já que Pelé, Didi, Djalma Santos, Garrincha e companhia voltaram com o caneco. Agora, todo esse charme está de volta. Sob comando do Grupo Tauá desde 2010, esse ícone mineiro passou por uma completa reestruturação e foi reaberto em 1º de dezembro passado com a proposta de resgatar a sofisticação do passado, após investimentos de 10 milhões de reais. "Em 2021, resolvemos que iríamos fazer uma mudança não apenas estrutural, mas de conceito do hotel, resgatando a sua vocação original e natural", contou  o presidente do grupo, Daniel Ribeiro, à jornalista Daniela Costa, da revista “Encontro”. A promessa foi cumprida com êxito.

O Termas de Araxá é patrimônio mineiro com gestão em parceria com o Grupo Tauá, a exemplo do Balneário e Thermas de Poços de Caldas (com gestão da Codemge), do Balneário de Águas Santas em Tiradentes (parceria Codemge/Grupo Cantina do Ítalo); Parque das Águas de Caxambu  (getão Codemge) e Parque das Águas de Cambuquira (parceria Codemge/Prefeitura de Cambuquira.

O hotel de Araxá é composto por termas, parques, lago e jardins, o imenso conjunto arquitetônico começou a ser construído em 1938. A inauguração ocorreu seis anos depois, enquanto o mundo ainda vivia os horrores da II Guerra. Fica na propriedade a Fonte da Jumenta, hoje Fonte Dona Beja. Segundo a lenda, era ali que a famosa cortesã do século XIX banhava-se, o que seria a razão de continuar sempre bela e jovem, apesar do passar dos anos. Erguido dentro de uma área de 450 mil metros quadrados, o Grande Hotel Termas de Araxá tem 33 mil metros quadrados de área construída. As termas ocupam outros 16 mil metros quadrados. O prédio principal conta com 300 quartos e uma suíte presidencial com nada menos que 200 metros quadrados. A inauguração contou com a presença do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas (1882-1954), com direito a descerramento de placa no Lago das Termas. Patrimônio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), o projeto é do arquiteto Luiz Signorelli (1896-1964) e o paisagismo, de Roberto Burle Marx (1909-1994).

Ao decidirem reposicionar o Grande Hotel Termas de Araxá, os sócios do Grupo Tauá contrataram o empresário argentino radicado em São Paulo, Facundo Guerra, para realizar um estudo sobre a "vocação do produto". Conhecido pelo trabalho com imóveis históricos, ele chegou à conclusão de que era necessário retomar o glamour de outrora. A releitura dos principais ambientes ficou a cargo do arquiteto Dannilo Camargos, que tinha a missão de harmonizar o clássico ao contemporâneo. "Nosso objetivo é oferecer uma experiência exclusiva e memorável, como tudo começou, conciliando alto padrão com simplicidade, respeitando a cultura local com a tradição de uma forte marca", diz Fernanda Bicalho, relações institucionais do hotel. Foram revitalizados os móveis de imbuia maciça, o mármore de Carrara do hall de entrada, os lustres de cristal feitos com ferragem belga, os ladrilhos portugueses e os vitrais. Requinte reforçado com o que há de melhor na hotelaria atual, como os enxovais da marca Trousseau. Outra novidade são as pinturas feitas pela artista francesa Dominique Jardy nos quartos, retratando a beleza da natureza regional. Nos corredores, os hóspedes podem acessar, por meio de QR Codes, textos da escritora Paula Febbe sobre a história local. "Nós nos preocupamos em fazer a diferença em cada detalhe, buscando profissionais renomados no mercado", diz Fernanda. O estilista Marcelo Sommer foi o responsável pela nova linha de uniformes da casa, inspirada no filme do cineasta Wes Anderson Grande Hotel Budapeste. A prataria do bufê foi toda substituída por louças Vista Alegre, talheres de prata e jogos americanos de linho. Mas luxo não significa abrir mão da tradição. O cobiçado café da manhã é servido com saborosas quitandas mineiras, feitas na padaria do próprio hotel. Na butique, itens de produção local podem ser adquiridos pelos hóspedes.

Para acompanhar as mudanças físicas, o hotel investiu em pessoal. Dois exemplos de recém-chegados são o gerente-geral, Diogo Villalobos, que veio do grupo Fasano, com passagem inclusive pela unidade nova-iorquina; e a governanta Valéria Simões, que veio do Belmont Copacabana Palace. O grupo também se preocupa em privilegiar a mão de obra local – a gerente de Termas, Elenir Simões, por exemplo, chegou a essa posição depois de anos de casa. Desde a reinauguração, mais de 110 empregos foram gerados, totalizando 240 funcionários para atender os 150 quartos em funcionamento, divididos em oito categorias. "No total, temos 282 apartamentos, mas optamos por reduzir o número de acomodações disponíveis, no dia a dia, para entregar um serviço de alta qualidade", diz Lizete Ribeiro, diretora comercial e de marketing do Grupo Tauá. As demais unidades seguem disponíveis para eventos corporativos.

Piscina externa: à noite, iluminação dá um toque especial ao visual (Paulo Márcio/Encontro)

Com forte apelo familiar e buscando atrair gerações distintas, de avós a netos, o Grande Hotel Termas de Araxá investe em ampla programação infantil, com atividades externas acompanhadas por monitores. Enquanto a garotada se diverte, os adultos relaxam. "O coração do lugar são as termas", diz Lizete. Destaque na consultoria de spa no Brasil, o grupo Amman foi o responsável pela revitalização das jornadas, massagens, banhos e óleos, com foco no turismo de bem-estar. O complexo de águas termais é abastecido por duas fontes vulcânicas, com propriedades distintas. Em estilo inglês, o chá da tarde é servido no Solar Dos Araxás, com suas colunas dóricas, piso de mármore e um teto pintado de estrelas. Mais conhecido como Salão Azul, é o mais icônico do Grande Hotel. Outro atrativo é a mandala de oito pontas das Termas, envolta por dezenas de velas, símbolo da roda da iluminação. O hotel abriga ainda bares, comandados pelo gerente Bruno Mascarenhas e pela mixologista Michelly Rossy, cinema para 450 lugares, restaurantes e diversos salões luxuosos, um deles o Minas Gerais, onde funcionou o maior cassino do país. "Primamos muito pela memória afetiva. Essa retomada tem uma dimensão simbólica muito grande para Minas Gerais", afirma Lizete.

 O Salão dos Araxás, mais conhecido como Salão Azul: colunas dóricas, piso de mármore e um teto pintado de estrelas (Paulo Márcio/Encontro)

Fundado em 1986 pelo empresário e ex-deputado João Pinto Ribeiro, atual presidente do conselho, e por sua mulher, Lizete Chequer, o Grupo Tauá nasceu em um pequeno sítio localizado na cidade de Caeté, no interior de Minas Gerais. Nesses 36 anos de história, o sítio de Caeté se transformou no maior resort do estado e o Tauá em um dos grandes grupos hoteleiros do país, com três resorts – além de Caeté, em Atibaia (SP) e Alexânia (GO) –, um hotel corporativo e a menina dos olhos, o Grande Hotel Termas de Araxá. Com altos investimentos, em sua maioria realizados com recursos próprios, o grupo pretende ir além. E a próxima novidade será à beira-mar. "Estamos catalogando algumas opções de terreno no Nordeste, próximo a Recife, Salvador ou Fortaleza, para adquirir já no próximo ano", diz o presidente Daniel. "A inauguração será em 2025." Turistas, preparem-se: vem mais coisa boa por aí.