Emma Stone, em "The curse", mostra o lado oculto das boas intenções
Série que estreia neste sábado no Paramount+ tem casal aparentemente fazendo o bem e tentando lucrar com isso
Nathan Fielder é um ator e comediante canadense que faz rir (às vezes), mas sempre com certo desconforto (de quem está contracenando com ele na tela e também de quem está do lado de cá, assistindo). Suas produções, criadas, estreladas e dirigidas por ele, são inteligentes e absolutamente fora do padrão – há um gosto amargo em tudo.
No ano passado, estreou, na HBO Max, “O ensaio”. Parece um reality show, mas não é. Lida com pessoas reais que atenderam a um chamado on-line. Mal comparando, seria como “O show de Truman” com gente como a gente. Pois agora Fielder se embrenha na ficção pura e simples – mas sempre com uma observação crítica pautada no real.
Com estreia neste sábado (11/11), no Paramount+, “The curse” o coloca ao lado de uma estrela. Emma Stone interpreta Whitney, a mulher de Asher (Fielder). O casal Seigel vive em Santa Fé, Novo México, e está à frente de uma empresa de desenvolvimento imobiliário dedicada à sustentabilidade e ao respeito às culturas locais – no caso, as famílias mexicanas radicadas ali.
Paralelamente, eles estão criando um programa de TV. Convidaram, para a empreitada, o amigo de infância de Asher, Dougie (Benny Safdie). A ideia é documentar a relação dos dois empreendedores com a população local – grosso modo, mostrar como o casal está melhorando a vida de pessoas com dificuldades.
CRISE
E há uma terceira questão na história. Asher e Whitney estão juntos há um ano. Têm pensado em ter filhos. Logo no início, fica claro que nada vai dar certo – e que, ao longo dos 10 episódios, vamos acompanhar o desmoronamento da relação, tanto pessoal quanto profissional.
A maldição a que o título se refere é lançada logo no primeiro episódio. A sequência beira o absurdo. Enquanto Whitney está no carro de TV resolvendo algumas questões, Asher, sob o comando de Dougie, vai gravar uma cena que mostra quão desprendido ele é. Uma menina está vendendo refrigerantes a US$ 2 a lata. Ele chega, com a câmera ao longe acompanhando, e oferece US$ 100 para a garota. Não compra lata nenhuma, estava só fazendo um agrado.
Assim que Dougie termina de gravar, Asher não dá nem meia volta. Retorna para a menina e pede o dinheiro de volta. Diz que compraria, por US$ 20, as latinhas – mas que aquele dinheiro era só para fazer a cena. Quando ela se recusa a devolver, ele arranca a nota. Acaba sendo amaldiçoado por ela. A partir de então, o casal passa a acreditar que o que dá errado é decorrente da tal maldição.
A série segue nessa toada, com algumas reviravoltas. O mais interessante é que “The curse”, de um jeito meio torto, aponta o dedo para a falsificação dos reality shows. Também mostra como relacionamentos passam a ser regidos pelo que ditam as redes sociais. Ainda faz observações sobre a gentrificação e o politicamente correto.
Mas nada, vale repetir, é pautado pelo padrão. Há sequências bizarras, como um jantar com os pais superjudeus de Whitney, que termina com o sogro falando sobre o órgão sexual diminuto do genro.
A câmera é quase documental. Acompanha tudo como se estivesse olhando no buraco da fechadura (em uma cena, inclusive, literalmente). “The curse”, por vezes, se torna exaustiva. Para quem conhece o trabalho de Fielder, faz o maior sentido, já que ele não veio ao mundo para agradar a todos.
“THE CURSE”
• A série, com 10 episódios, estreia neste sábado (11/11), no Paramount+
Veja o trailer:
https://youtu.be/ikowc2lcBPM