Dito Mattar: um homem bom

Cronicando

Dito Mattar: um homem bom

Há homens que passam por esta vida semeando silêncio. Outros, no entanto, deixam um rastro de luz que não se apaga — mesmo com a ausência. Dito Mattar foi desses. Um homem bom, no mais alto e raro sentido da palavra.
    

De família tradicional em nossa Passos, ele soube honrar não apenas o nome que carregava, mas a humanidade que o movia. Viveu com integridade, bondade e um senso profundo de lealdade ao outro. Quem o conheceu sabe: Dito era presença firme, olhar sereno, palavra que acolhia, gesto que amparava. Era o amigo que a vida oferece uma vez só — e que se leva na alma para sempre.

Construiu sua trajetória com solidez no mundo farmacêutico e empresarial, sendo um dos nomes à frente da Valgrande, concessionária da Ford. Um homem respeitado, admirado, que conquistou reconhecimento sem jamais perder a simplicidade. Mas o que o tornava grandioso não era o êxito dos negócios, e sim a delicadeza dos encontros, a compaixão pelos que sofrem, a disposição constante de servir.

No fim da vida profissional, ao invés de recolher-se ao conforto do merecido descanso, entregou-se à arte de acolher à mesa. Montou um restaurante onde recebia os amigos como quem abre o coração. Ali, em fins de noite memoráveis, servia o melhor bife à parmegiana da cidade — com um toque de nobreza e afeto, mais saboroso que o próprio prato. E, para os mais simples, havia também o famoso PF, com bifão acebolado e dois olhudos… ovos que pareciam sorrir do prato. A comida tinha alma. E a alma era dele.

Mas não eram só os amigos que ali se alimentavam. Dito não permitia que qualquer pessoa saísse com fome de seu restaurante. Os que não tinham com que pagar, comiam assim mesmo — como se estivessem em casa, porque era isso que ele oferecia: um lar dentro do seu gesto. Com discrição, oferecia alimento, dignidade, um sorriso. E com isso alimentava mais que o corpo: restaurava a fé.

Em um tempo em que tanta gente passa sem se dar conta do outro, ele sabia ver. E, ao ver, agia. Era feito os raros — os que tocam sem invadir, os que ajudam sem vanglória, os que amam sem esperar retorno.

Dito Mattar curava o homem ferido com afeto, com respeito, com poesia silenciosa. Sua vida foi um hino à bondade, uma oração sem palavras, um ato contínuo de generosidade. Não pediu reconhecimento. Apenas viveu como quem entende que existir é cuidar.

Sua presença resiste — nas lembranças, nos gestos que inspirou, na saudade que não se rende. A cidade talvez esteja mais quieta, mais carente de gentileza. Mas ele permanece. Nas mesas, nas esquinas, nas conversas que se entrelaçam em gratidão.

Porque há vidas que justificam a própria passagem com o bem que fizeram. Dito Mattar foi, é e sempre será uma dessas.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado. (luizgfnegrinho@gmail.com)