Promotores fazem hoje ato solidário aos atletas passenses vítimas de racismo

Eles teriam sido chamados de “macacos” por um torcedor no ginásio de São Lourenço

Promotores fazem hoje ato solidário aos atletas passenses vítimas de racismo
O time de basquete feminino de passos encerrou sua participação no Joju 2023 como vice-campeão (Divulgação PMP)

Os integrantes do Ministério Público de Minas Gerais, com atuação na Comarca de Passos, vão realizar nesta quarta-feira, às 16h30, no salão do júri do Fórum de Passos, um ato para uma moção de solidariedade ao técnico de basquete feminino de Passos, Danilo Graciano dos Santos, e à atleta Jéssica dos Santos Almeida, vítimas de atos racistas em São Lourenço.

O treinador e a jogadora da equipe passense de baquete feminino que disputou uma partida em São Lourenço, contra o time da casa no último final de semana pelos Jogos da Juventude (Joju) do Sul e Sudoeste de Minas, teriam sido vítimas de manifestação de racismo durante a partida.

No domingo, dia 4, foram realizadas quatro partidas decisivas do certame no ginásio polidesportivo Pedro Melo, mas apenas no futsal masculino adulto a equipe de Passos não estava envolvida. Nas outras três modalidades, o basquete masculino e futsal feminino trouxeram os troféus de campeão, e o time de basquete feminino perdeu a final para São Lourenço.

E foi exatamente no confronto que a discriminação teria ocorrido. Depois do início de uma disputa pela posse de bola entre Jéssica, de Passos, de cor negra, e a adversária, de cor branca, ambas foram expulsas de quadra. Naquele momento, a equipe local tinha o placar desfavorável, mas acabou vencendo o confronto e ficou com o troféu de campeão. O treinador de Passos, Danilo Graciano dos Santos, o Danilão, afirmou que o resultado foi justo porque o time adversário esteve melhor em quadra.

Após Jéssica ser expulsa de quadra, Danilão foi até o local para retirá-la do tumulto e ao chegar no banco de reservas um torcedor que estava na arquibancada do ginásio, dizendo-se marido da jogadora adversária, teria chamado a jogadora de macaca. No desenrolar da confusão, o treinador passense também teria sido ofendido com termos racistas e palavrões.

Como Jéssica não podia permanecer no banco de suplentes, Danilão a levou para próximo do vestiário do time masculino de Passos, que entrou em quadra após o confronto feminino e sagrou-se campeão vencendo Guaxupé por 49 a 43. Já a equipe feminina, bastante abalada pelos fatos ocorridos anteriormente, acabou perdendo o título de virada para São Lourenço pelo placar de 43 a 46.

Durante todo o desenrolar da rodada quádrupla, não havia nenhum militar no ginásio. Mesmo após o tumulto causado pela expulsão das duas atletas de basquete, e os árbitros afirmando que tinham acionados os policiais, só após o encerramento da última partida, que a delegação de Passos foi registrar o ato de racismo.

“Lamento o ocorrido e estou muito chocado até agora. Tive forças para defender Passos contra Guaxupé, fomos campeões, mas a alegria foi abafada pela ofensa racista contra mim e a Jéssica. São casos que vêm aumentando e isso me preocupa demais, porque minha família é negra, e tenho milhares de amigos da mesma cor de pele. Peço justiça e também a Deus para que cessem as discriminações, sejam por qual motivo for”, desabafou Danilo.

Um boletim de ocorrência foi registrado após a rodada quádrupla no posto da Polícia Militar de São Lourenço. O prefeito de Passos, Diego Rodrigo de Oliveira, afirmou em vídeos divulgados nas redes sociais que já acionou a Controladoria e a Procuradoria do município para tomar as devidas providências.

 

Repúdios

 

Nesta segunda-feira, o secretário Geral da Assesmig, em nota oficial, repudiou o ato.  “A entidade repudia qualquer tipo de discriminação, seja de gênero, cor, credo, raça ou religião, como reza no seu estatuto. As medidas internas já estão sendo tomadas, e nos colocamos ao dispor da jogadora e da equipe passense. O rapaz deve ser localizado pelas autoridades competentes, ouvido e assim responder pelos seus atos perante à justiça”.

Já o secretário municipal de Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura de Passos, Vicente de Paula Campeiz, também repudiou o ato de racismo e preconceito no esporte. “É inadmissível isso acontecer com qualquer pessoa, ainda mais com nosso técnico Danilo e a atleta Jéssica. Já acionamos o Departamento Jurídico da Prefeitura e tomaremos as medidas necessárias para defender os envolvidos”.