Herdeiro do clã Maia e o filho são sepultados em Campo Grande; companheira também morreu

Família, que teve origem em Passos, fez história na pecuária do Brasil, Austrália e Estados Unidos

Herdeiro do clã Maia e o filho são sepultados em Campo Grande; companheira também morreu
Francisco, de 11 anos, e o pai Garon, de 42, morreram durante uma queda de avião (Reprodução)

Os corpos do pecuarista Garon Maia, 42 anos, e do filho Francisco Veronezi Maia, de 11 anos, que morreram em uma queda de avião em Rondônia, foram enterrados nesta terça-feira (1º), em Campo Grande (MS). Também ontem, faleceu a companheira de Garon, Ana Paula, elevando para três as vítimas da tragédia familiar.

Eram herdeiros de um dos maiores impérios da pecuária brasileira. Gazonzinho era filho de Garon Maia, sobrinho-neto de Tião Maia, e neto de Braulino Basílio Maia Filho, e integrava um clâ conhecido pelo pioneirismo na pecuária brasileira. A família era de Passos e fez história na pecuária nacional a partir de Araçatuba (SP) e também em locais como a Austrália e Estados Unidos, com atuação do lendário Tião Maia.

 

Garon Maia e o filho de 11 anos morreram após a queda do avião bimotor em que viajavam em uma área de floresta em Vilhena (RO). Os corpos de pai e filho foram transladados de Rondônia para o Mato Grosso do Sul na noite de domingo, 30

 

Pai e filho foram velados juntos e sepultados no Cemitério Parque das Primaveras, na capital. A cerimônia foi restrita e contou com a presença de muitos amigos e familiares das vítimas. A escola de Francisco lamentou o ocorrido e declarou luto oficial de três dias. Nas redes sociais, professores, pais de alunos e amigos lamentaram a morte do menino. "Ele era um dos meus melhores amigos", escreveu um estudante, "Kiko estará sempre em nossas mais queridas lembranças", disse uma amiga.

 

Relatos de quem compareceu à despedida indicam que foram inúmeras as homenagens feitas por familiares, amigos e empresas às vítimas do acidente. Colegas de escola do menino compareceram ao velório para dar adeus e prestaram homenagem ao amigo.

 

Por meio de nota divulgada nas redes sociais, a família Maia se pronunciou sobre a perda e homenageou pai e filho. "Sabemos que eles também tocaram a vida de muitas pessoas e, portanto, compartilhamos essa dor com todos que amaram e que hoje também choram sua partida".

 

Em texto que circula nas redes sociais, supostamente escrito pelo irmão de Garon Maia, é dito que o piloto saiu com a aeronave para abastecê-la e buscar pizzas. O avião caiu nas proximidades de Vilhena, em Rondônia, a poucos quilômetros do Mato Grosso, destino final do voo. A viagem até a Fazenda Jaqueline, para onde seguiam, é estimada em 15 minutos, mas o avião sumiu dos radares cinco minutos após decolar.

Segundo informações do Corpo de Bombeiros, a aeronave bateu violentamente contra árvores, perto de um local conhecido como Cachoeira das Cavernas. Houve um forte impacto e moradores da região ouviram o estrondo. O acidente com o bimotor aconteceu cerca de oito minutos depois do avião decolar do aeroporto de Vilhena rumo a uma fazenda de Comodoro (MT). Os corpos deles foram encontrados junto aos destroços do avião.

Um empregado da família Maia revelou que “Garonzinho” era um piloto experiente e viajava com o filho para Vilhena, a fim de abastecer a aeronave. O garoto estava passando férias com o pai, que o levaria para Campo Grande (MS), onde o adolescente morava com a mãe.

 

MORRE A ATUAL MULHER

Ana Paula Pridonik, de 27 anos, companheira do pecuarista Garon Maia que estava com o filho no avião, morreu ontem segundo confirmação da Santa Casa de Campo Grande. Ana Paula deu entrada na unidade de saúde no início da tarde desta terça-feira e morreu às 14h50. Ela havia sido socorrida mais cedo pelo Corpo de Bombeiros, em sua casa, com um ferimento causado por arma de fogo.

Ana Paula morreu pouco depois do sepultamento do companheiro e do enteado. A engenheira é terceira vítima fatal envolvendo a família. 

Ana Paula Pridonik, de 27 anos, era companheira do pecuarista Garon Maia e madrasta de Francisco Veronezi Maia (Reprodução)

 

ACIDENTE

 

O avião Beechcraft Baron 58 decolou do aeroporto de Vilhena (Rondônia) por volta de 17h50 de sábado, 29, e desapareceu do radar cinco minutos depois. Na manhã de domingo, os militares vasculharam a mata fechada e encontraram os destroços do bimotor e os corpos de pai e filho.

 

O patriarca do clã, Braulino Basílio Maia Filho, também conhecido como Garon Maia, foi um dos maiores pecuaristas do século passado no Brasil e fundou mais de 50 fazendas, segundo suas memórias publicadas em livro, tendo mantido um rebanho com, em média, 40 mil cabeças de gado.

 

O pai de Garonzinho, Garon Maia, que também trabalhou como pecuarista, morreu em outubro de 2022, aos 64 anos, em decorrência de complicações causadas pelo câncer.

O passense Tião Maia, tio avó de Garonzinho, ganhou fama ao gerir seus negócios a partir de Araçatuba, depois que deixou a cidade de Passos. Ele teve grande relacionamento com o ex-presidente Jango Goulart. Com primário incompleto, tornou-se conhecido pelo espírito empreendedor e o jeito caipira, que fascinavam amigos, empresários e políticos do alto escalão.

 

Notabilizou-se por exposição recorrente na mídia ao lado de personalidades públicas, entre elas o ex-presidente Juscelino Kubitschek, e por não se policiar em entrevistas a jornalistas. Ele serviu de inspiração para o novelista Dias Gomes para o personagem “Sinhozinho Malta”, da novela “Roque Santeiro”, como conta o próprio autor: “Bolei o homem inspirado em Tião Maia, um rico criador de gado, na época muito famoso, assíduo das colunas sociais, e que hoje mora na Austrália. Como o Sinhozinho, Tião Maia tinha uma coleção de perucas, usava chapéu de caubói americano e gostava de se cercar da mulherada. Coloquei uma pesquisadora em cima do Tião Maia, com a desculpa de que a Globo faria uma reportagem com ele para o Globo Repórter, e assim ele abriu sua vida toda”, contou.

 

Durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), foi perseguido pelas autoridades da época por opiniões divulgadas na imprensa, sociedade com João Goulart e acusado de abuso de preços numa época de desabastecimento de carne, partindo para a Austrália (1976) sem saber inglês, mas com alguns milhões de dólares no bolso.

 

AUSTRÁLIA

Vendeu todos os seus bens no Brasil, incluindo os frigoríficos "TMaia" (1952) e foi para a Austrália, onde arrendou imensas propriedades para a criação extensiva de gado. Desenvolveu a pecuária de corte naquele país, onde novamente prosperou e foi dono de milhares de cabeças de gado e de grandes fazendas que somavam cerca de 1 milhão de hectares. Chegou a ter mais de 170 mil cabeças de gado em suas fazendas australianas.

 

ESTADOS UNIDOS

Passou a ser chamado de o Barão do Gado no Brasil e nos EUA, onde investiu milhões de dólares, em especial, no mercado imobiliário em Las Vegas, onde construiu um condomínio chamado de "CopaCabana" com quase 100 casas, deposito "Fort Knox" e lojas de aluguel. A empresa, Tusa Development Inc., era administrada pelo sobrinho Aramis Maia e Julio Cesar Patti, ambos parentes e de sua cidade natal, Passos, MG.

 

RETORNO AO BRASIL

Foi vítima de um aneurisma no ano de 1992 e viveu recluso em um apartamento em São Paulo, no bairro de Higienópolis. Morreu aos 89 anos no Hospital Sírio Libanês.

 

Na época de sua morte, constavam entre seus bens 170 mil cabeças de gado, duas fazendas na Austrália: Lawn Hill, comprada à vista por US$ 3 milhões, e Julia Creek, de 140 mil hectares, um conjunto residencial em Las Vegas avaliado em US$ 30 milhões, um condomínio de apartamentos batizado de Copacabana, além de outros empreendimentos nos Estados Unidos.

 

Em Passos, na década de 1980, ele patrocinou a construção das casas de um complexo denominado Centro de Recuperação T. Maia, situado na Rua Barão de Passos, que funcionou durante alguns anos e depois foi transferido para a Sociedade São Vicente de Paulo.