Prá não dizer que não falei da Câmara

Observando

Prá não dizer que não falei da Câmara

Enquanto a cidade derrete nas filas da UPA e do caos generalizado na saúde, com promessas descumpridas em série, a Câmara de Vereadores — que deveria ser freio, contrapeso e consciência crítica do Executivo — se converteu em capela de louvores. É missa semanal em homenagem ao prefeito, com direito a amém coletivo e palmas ensaiadas. Quem deveria fiscalizar virou claque; quem deveria legislar virou bajulador de palanque.

 

Vira-folha VIP: o ingresso mais valioso da base governista

 

Antes, “virar a casaca” era vergonha alheia; hoje, é moeda de troca e passaporte para cargos e vantagens. Os moralistas de ontem são os fisiológicos de hoje: bradavam contra a corrupção, denunciavam abusos e gritavam independência. Agora, circulam sorridentes pelos corredores do poder, exercendo cargos de direção, controlando comissões e posando em selfies bajuladoras ao lado do prefeito. Não representam o povo, mas apenas a si mesmos e ao conforto de seus próprios gabinetes.

 

Comissão do Esquecimento: onde PADs, promessas e processos vão dormir

 

Em troca de conquistar apoio, a Prefeitura, se tornou arquivadora oficial de PADs incômodos, denúncias espinhosas e promessas que viraram poeira. Tudo é engavetado, desde documentos sumidos até demandas da população ignoradas — inclusive de bairros inteiros, como a Vila São José, onde só lembram que existe em ano eleitoral. Os vereadores traíram seus eleitores para manter os próprios favores. O mandato virou moeda de troca, e a ética foi rifada no primeiro jantar de conciliação.

 

Câmara Municipal S/A: uma empresa do ramo “apoio irrestrito”

 

O Legislativo se dissolveu na submissão. Em vez de debater políticas públicas, fiscalizar contratos, convocar secretários e investigar irregularidades, os vereadores hoje discutem nome de rua. E mesmo nisso conseguem fazer lambança — como foi com a Avenida Canadá. A “Casa do Povo” virou extensão do gabinete do prefeito. Não há CPI, não há cobrança, não há coragem. Só harmonia artificial e palmas para cada postagem oficial.

 

Oposição em Extinção: espécie rara, avistada apenas em ano ímpar

 

Cadê aqueles vereadores que prometeram independência? Que garantiram que fariam oposição firme? Foram tragados pelo redemoinho da conveniência. Muitos agora indicam cargos nas secretarias que deveriam fiscalizar. Trocaram a tribuna por reuniões em  cadeira acolchoada do Executivo, e o mandato pela senha do “grupo de WhatsApp da confiança”. Em vez de lutar pelo povo, preferem festança com  homenagens a personagens loteados para cada vereador que satisfazem sua ambição pelo voto familiar. A cidade perdeu sua voz crítica. Ganhou um festivo coral de aplausos programados.

 

 

O Encantador de Políticos: como Diego faz a mágica acontecer

 

Com uma piscadela, um contrato aqui e um carguinho ali, o prefeito transforma crítica em fidelidade. Vereadores que subiram no palanque jurando independência hoje defendem o governo com fervor de fã-clube. O prefeito não precisa de base: tem plateia cativa. Os mais barulhentos da oposição viraram garçons de elogio. O projeto de cidade sumiu, mas o projeto de eleição (seria 2026?)   vai de vento em popa.

 

A Banca da Moral Derretida

 

Nas franjas do poder, abjetos e desacreditados personagens  brotados da Esgotoesfera, assumem o papel de cães de guarda do governo. Um desempregado, por uma merreca, virou serviçal em um contrato fantasma. Uma idosa de língua venenosa que trocou indignação por carguinho para a rebenta. Ambos, ontem críticos, o primeiro secretamente (mas a gente guarda os posts) e a outra explicitamente, hoje são escudeiros raivosos do poder, atacando qualquer voz dissonante com palavrões, calúnias e fake news. São os pútridos porta-vozes oficiais da decadência moral de um governo que tenta comprar até a indignação.

 

Popularidade não é competência (mas ajuda na maquiagem)

 

A cidade parece estar bem — no Instagram. Na vida real, é mato alto, buraco, lixo acumulado e sofrimento nos corredores da saúde. A maquiagem oficial esconde um rosto ferido, e o rímel do marketing tenta encobrir o inchaço do abandono. Com vereadores domesticados e imprensa amaciada por contratos e favores, cria-se a ilusão de progresso. Mas quem vive a cidade, quem está nas filas da UPA, sabe a verdade: não há maquiagem que dure prá sempre.

 

O que se espera de um Legislativo?

 

Uma Câmara responsável deve fiscalizar os atos do Executivo com independência, cobrar resultados, ouvir a população e defender o interesse público. Deve abrir comissões para investigar, debater propostas relevantes, lutar por melhorias concretas e rejeitar medidas ineficientes. Deve proteger o povo — não se esconder atrás do prefeito. Mas em Passos, o que temos é um Poder Legislativo de joelhos, submisso, cúmplice e omisso. Uma instituição que virou sombra de si mesma.

 

Reeleição em Looping: quem planta esquecimento colhe decepção

 

A cada eleição, o enredo é o mesmo: povo cansado, promessa nova, vereador reciclado. A indignação dura até o primeiro “favorzinho”. Depois vem o voto. E o ciclo recomeça: decepção, abandono, indignação. A cidade vive em looping de ilusão e traição. A pergunta que grita é: o que esperar de quem já te traiu uma vez — e nem sequer pediu desculpas?